terça-feira, 3 de novembro de 2009

Adolescentes e o silêncio

Nas últimas semanas, fiz um trabalho com um grupo de mais ou menos 20 adolescentes, a maioria entre 15 e 16 anos - apenas um deles, bastante precoce, tem 13. São estudantes do 1º ano de uma escola particular que precisam cumprir uma tarefa interdisciplinar de fim de ano. Trata-se de um filme. Eles bolaram o roteiro, obedecendo ao edital previamente lançado, e vale uma boa parcela da nota do bimestre. Pediram dinheiro aos pais para contratar uma equipe de filmagem e a coisa toda caiu nos meus ombros e do Luciano, um grande amigo que tem me ajudado no trabalho.

Engana-se quem se apressa em pensar que este post é sobre a minha apreensão em imaginar minha filha aos 15, 16 anos, arrumando namoradinhos e me deixando louco de preocupação. Nada disso. A espingarda já está no armário esperando por esse momento. Minha apreensão atual tem outro motivo: adolescentes simplesmente não compreendem o significado da palavra silêncio. Então, me pergunto: a Julia Leticia também será assim? E mais: será que isso começa na adolescência ou ainda mais cedo?

Antes do início das filmagens, eu e Luciano deixamos bem claro à rapaziada que seria necessário silêncio, durante as gravações, daqueles que não estivessem em cena. Foi o mesmo que explicar a duas dezenas de hamsters. Em todas, literalmente todas as cenas, foi necessário pedir, quase implorar, mais de uma vez para que os adolescentes calassem a boca. Eu gritava “silêncio!” e eles ouviam “ngngngnnnruáááá”. Eu repetia: “Silêncio”. O mesmo que “lalalalalalalááááááá´”. Então, "shhhhhhhhhhhhhh". Nada. Por fim, eu começava a gesticular. Dedo em frente à boca, mãos abanando, até que, talvez por cansarem de falar, eles resolvessem silenciar. Não por muito tempo, claro.

No último sábado, eu, Priscila e Julia Leticia almoçamos na casa dos meus pais. Perguntei a dona Lígia se eu era difícil assim quando adolescente. Silêncio. Mais do que um “sim” gritado. Parece-me que, quando adolescentes, todos nós já fomos assim. E o pior: não temos a menor noção disso. Que medo! O consolo é que meus pais sobreviveram a três adolescências: do meu irmão, minha e da minha irmã. E nos amam até hoje! Vai ver que a paciência inexistente em mim aparecerá até lá.

2 comentários:

  1. "A espingarda já está no armário esperando por esse momento". Nessas horas lá estarei, mediando os conflitos no campo de batalha!!! rs

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  2. Tá certo, tem que aprontar a espingarda desde já. E quando a mãe aparecer pra mediar os conflitos, você espera ela dar uma saidinha pra voltar a intimidar o indivíduo! hahahah
    Boa sorte pros dois!
    ;)

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